Esse projeto surge de uma inquietação antiga, uma certa falta de identificação e familiaridade com o termo 'design'. Seja por ser uma palavra estrangeira, difícil de falar e escrever ou pelo fato de que desde o principio da profissão sentia um certo tom de enganação em dar agora nome pra algo, que eu ja fazia desde antes, mesmo sem título, bacharelado, especialização para fazer.
Logo descobri que não era apenas eu, Rafael Cardoso, designer e pesquisador brasileiro, em seu livro “O Design Brasileiro, antes do design” apresenta uma reflexão interessante sobre o uso do termo inglês no contexto nacional.“O mito de que o design brasileiro teve a sua génese por volta de 1960 persiste na consciência nacional. (…) Alguns consideram que a aplicação do termo “design” a qualquer situação anterior ao período ‘heróico’ da revolução modernista é errada. A verdade é que existe um certo anacronismo em descrever como “designer” alguém que provavelmente não reconheceria o significado da palavra e talvez não soubesse como pronunciá-la.” — Rafael Cardoso
Existe uma problemática em afirmar que o design brasileiro começa em 1960. com a chegada da escola moderna e seus títulos. Porque isso implica em não reconhecer tudo que ja existia como funcionalidade, gráfica, projetual, visual, cultural antes disso. O termo “Desenho Industrial” é usado no Brasil ao menos desde a década de 1850. Na America Latina, pelo idioma, se usa o termo Disenõ, e Diseñador para caracterizar a profissão e o profissional, eu gosto mais. Porque quando eu cheguei na faculdade eu queria desenhar, aprender, criar, fabricar, pensar e não ser algo.
Eu sempre gostei também do termo comunicação visual. Comunicação é uma palavra derivada do termo latino “communicare”, que significa “partilhar, participar algo, tornar comum”. No meu campo de atuação, que é a criação de narrativas visuais, acredito no trabalho que começa e termina com boas conversas, muita troca e participação cooperativa de todos envolvidos. Na palavra comunicação cabe mais gente.
Mas entenda, esse projeto não tem a pretensão de se desfazer de qualquer termo, muito menos trazer um novo, final e universal. A ideia é provocar uma reflexão encima das contradições com as quais convivemos. Angela Davis disse em uma palestra no brasil em 2019, precisamos encarar as contradições, até mesmo e especialmente aquelas que nos são naturalizadas. Rever nomenclaturas é um tanto desconfortável e pode ser confuso. Mas a sensação de controle que os títulos nos dão, também são marco epistêmico da modernidade, sob revisão aqui.
@menosdesign é um movimento de reflexão. Ao pensar menos em design como final-idade abrimos espaço para pensar a partir de perspectivas mais plurais sobre a prática criativa. Trazendo pro lugar da referência universal, o olhar mais voltado para o nosso cotidiano. Fazendo mais perguntas do que projetando soluções. Colocando o experimento como centro do processo criativo, criando não só a partir de começos e para objetos finais, mas sim de processo comprometidos com a travessia em si.
Tudo isso hoje se traduz em uma prática artística e pesquisa recorrente que a mais de 5 anos, se faz através do caminhar, olhar e desenhar. Mas chame do que quiser, fica aqui o convite pra esse movimento coletivo.
Bora?